Carpe Diem
Peito fervente num corpo abandonado
Cabeça que não sente, coração dormente
Mentiras retratadas numa ilusão permanente
Penso no que vem e no que já passou
Será que fui feliz? Sou ou serei?
Já não sei, tudo muda? Não!
Sempre foi assim...
Viro folhas e o parágrafo é o mesmo
A solidão ferve, a saudade não sei
A confusão instala-se no meio da tempestade
Portos de abrigo, só um...
Será que vale a pena?
Verei, mais tarde ou mais cedo.
Futuro com arrependimento, quase certo,
Do quê, ainda não sei.
às sombras do acaso a resposta inadiável?
Aceitas que a diurna inquietação da alma
substitua o riso claro de um corpo
que te exige o prazer? Fogem-te, por entre os dedos,
os instantes; e nos lábios dessa que amaste
morre um fim de frase, deixando a dúvida
definitiva. Um nome inútil persegue a tua memória,
para que o roubes ao sono dos sentidos. Porém,
nenhum rosto lhe dá a forma que desejarias;
e abraças a própria figura do vazio. Então,
por que esperas para sair ao encontro da vida,
do sopro quente da primavera, das margens
visíveis do humano? "Não", dizes, "nada me obrigará
à renúncia de mim próprio --- nem esse olhar
que me oforece o leito profundo da sua imagem!"
Louco, ignora que o destino, por vezes,
se confunde com a brevidade do verso.