terça-feira, janeiro 30, 2007

Referendo ao Aborto

“Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?”

Esta pergunta pode ser dividida em 4 problemas que se cruzam entre si:
1º "Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez...?"
Todas as pessoas a quem se faz esta parte da pergunta dizem que sim. Porquê? Porque não passa pela cabeça de alguém que após o sofrimento, causado por um aborto a uma mulher, esta tenha de ser exposta a um julgamento feito por pessoas que provavelmente não passaram pelas privações que esta mulher sofreu. Só ela sabe porque o fez e não tem capacidade para convencer nenhum juiz.

2º "... se realizada por opção da mulher...?"
Será que é só uma opção da mulher? Não deve ser só a mulher a decidir fazer um aborto, o pai também deve ter uma palavra a dizer quanto à vida ou morte de um ser criado por si e ambos devem ser penalizados ou despenalizados.

3º "... nas primeiras dez semanas...?"
Porquê dez semanas? Um ser existe quando o seu coração começa a bater? Um ser existe quando mexe o primeiro orgão? Um ser existe quando pensa?
Descartes dizia "Penso, logo, existo" - Pelos vistos é muito fácil esquecermo-nos desta frase. Para mim o problema está em saber quando é que o feto começa a pensar. E isto talvez nunca se venha a descobrir, já que ninguém pode saber se outra pessoa está a pensar.
Também há quem ache que um humano se torna ser quando começa a sentir dor. A Associação Médica Americana chegou à conclusão que um feto só sente dor nos últimos meses de gestação.

4º "... em estabelecimento de saúde legalmente autorizado...?"
Nesta parte da pergunta também acho que ninguém discorda. O aborto em clínicas ilegais é um risco para as mulheres que tomam a decisão de abortar. Se fosse feito num estabelecimento de saúde, público ou privado mas com todas as condições necessárias para o socorro das mulheres caso algo corra mal, as mulheres não correriam tantos riscos. Há quem ache que isto é facílitismo... Eu diria Humanismo!

Na minha opinião a pergunta é muito complexa, tem duas vantagens e duas desvantagens. Mas pensemos antes de tomar posição por um dos lados. Será que seria necessário mudar a pergunta? Retirar partes da pergunta? Acrescentar se's? Etc...

As pessoas que se dizem muito católicas sabem que se cometermos um pecado seremos julgados por Deus... Não acham que em vez de julgarmos estas mães... e pais... não era melhor criar condições para que não haja necessidade de se fazerem abortos? Quem tem essa responsabilidade são os governos, por isso são os governantes que devem ser julgados (no lugar certo) por todos nós. Por outro lado, a nossa responsabilidade e Humanidade não se esgota em pagarmos impostos para o governo ajudar os mais necessitados. Também nós devemos olhar menos para os nossos umbigos e ajudar quem está ao nosso lado, talvez um vizinho, muitas vezes os sobrinhos, os filhos, os netos, etc...
Esta situação não acontece só aos outros, um dia pode-nos cair em cima.

Já que não há outra pergunta temos duas hipóteses: votar em branco ou votar sim e esperar que o governo e nós próprios tomemos medidas para que não seja necessário fazer aborto.
Parem com as campanhas a favor ou contra a "despenalização do aborto", não faz sentido gastar milhares de Euros em campanhas absurdas quando há tanta gente que necessita desse dinheiro para não ter o impulso de abortar. Até agora só vi pessoas que se preocupam em defender um dos lados em prol de dinheiro das campanhas ou de visibilidade. Elas próprias sabem que a sua opção em algum ponto perde coerência.

Esta questão é de consciência... para ser sincero estou indeciso. Tenho medo de passar um cheque em branco ao Governo. Não digo isto por ser da direita, nem da esquerda, nem de lado nenhum.
Se o Governo tem capacidade para retirar Portugal da lama financeira também devia ter capacidade para investir na VIDA. A taxa de natalidade cada vez é mais baixa. A população está a envelhecer. As reformas progressivamente absorvem mais riqueza. Se conseguirem inverter essa situação também terão ganhos económicos.

Sim à VIDA, Não à Penalização!